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As DemarcAções de Márcio Almeida

Por Paulo Bruscky

 

Conheço o artista Márcio Almeida e o seu trabalho dis/forme em relação à SituAção através de suas propostas/instalações, sempre com referências ao ser humano e seus questionamentos. Nas palavras do artista, uma das funções do seu projeto "é gerar o pensamento e o questionamento do global em contraposição com o local". O próprio título da exposição faz uma alusão ao documento/licença da prefeitura para liberação do imóvel para habitação e esta exposição, composta por fotografias, cerca de 60 obeliscos (feito a ferro soldado do tipo vergalhão e cuja oxidação também é incorporada à sua idéia) e um vídeo-registro feito por Oriana Duarte em função do arrombamento do seu carro e que, ao prestar queixa na polícia, filmou a vidraça quebrada e o obelisco deitado num banco, tendo passado desapercebido pelo ladrão, é apenas uma parte do registro do seu projeto obelisco andarilho (ao contrário dos obeliscos convencionais, que são grandes, imponentes e imóveis, que servem para registros de marcos históricos), que já transitou por diversas cidades brasileiras e também no exterior, a exemplo de Paris, Londres, Roma e Berlin, entre outras. Esses objetos foram retirados da sua produção de desenhos/pinturas, onde eles estavam sempre representados.
Observando as fotos tiradas na cidade de Garanhuns, em Pernambuco, o artista percebeu um fato curioso que é a ausência de sombra do obelisco nas fotos tiradas nas ruas em plena luz do dia. Ao entregar o seu objeto para as pessoas ele recebeu uma documentação foto/gráfica bastante diversificada no que se refere a situAções/habitações/lembranças de locais bastante inusitados como banheiros, praças (numa delas um guarda protege o obelisco), lojas, fundo do mar, superposições com monumentos, enfim, uma série de registros que merecem uma análise sociológica e antropológica. Em uma série de fotografias do seu work in progress as projeções das sombras dos obeliscos se confundem com o próprio objeto, gerando uma perspectiva inovadora. Sendo Márcio Almeida um artista pesquisador nato e multimídia, esta propostAção não é um trabalho isolado na sua diversificada e inteligente produção. Ele é um dos poucos artistas brasileiros, ao lado de Nelson Félix e Eleonora Fabre a trabalharem com GPS, que o público pernambucano pode conhecer quando da sua participação como artista convidado do 45º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, realizado na Fábrica da Tacaruna em 2002/2003, quando ele montou a sua obra intitulada "DeFormação (Ação/Marcação)" na parte interna e externa da fábrica e segundo depoimento do próprio artista "(...) deu seqüência à série Ação/Marcação utilizando instrumento de localização por satélite, o GPS (Global Position System). De-Formação investigou posições e deslocamentos, em uma ação marcada por três etapas: registro e marcação de um determinado ponto, a partir das coordenadas da latitude e longitude; interferência do artista neste lugar, retirando a matéria (areia) e substituíndo-a por água; e transposição da matéria (areia) para o espaço expositivo, sobre pondo as matérias de dois pontos geográficos distintos".
Além da produção citada acima, Márcio realizou diversas intervenções urbanas e recentemente um trabalho bastante conceitual que foi a transposição de um barraco de uma favela para o Museu de Arte Contemporânea de Olinda/2006, como projeto de pesquisa contemplado no último Salão de Arte Contemporânea do Museu do Estado de Pernambuco. Ele também tem uma produção significativa nos seus trabalhos de vídeo, a exemplo do "Direita/Esquerda", "Mani-Oca", "Game Over", "Delivery" e "PA #1, 2 E 3", entre outros, que de uma certa forma estão sintonizados com sua produção como um todo.
Por fim, faço uso de uma outra frase do artista que resume muito bem a sua proposta: "o trabalho fala pouco e pergunta muito mais".

Arte em trânsito.
Hoje, a arte é este comunicado.

Paulo Bruscky
nov/2006

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